É peculiar e comum ao recebermos dentro de um Contexto de atendimento terapêutico, famílias que se encontram “perdidas e confusas”, diante de diagnósticos médicos, de pessoas com deficiências. Porém, não devemos esquecer que a Organização Mundial da Saúde entende sobre deficiência (2011) como sendo complexa, dinâmica, multidimensional e amplamente questionada.
Na prática indissociável da dinâmica familiar e Contexto Terapêutico, após diagnostico clínico fechado é comum encontrarmos infinitos questionamentos das famílias de como seu filho ou filha sobreviverá o estigma do ser diferente e assim nessa perspectiva limitada, pais e filhos vivem apenas o diagnóstico realizando caminhadas distantes da “luta” para se entregar na totalidade do “luto”.
Dentro da Psicologia o “luto” corresponde à parte voltada para uma perda emocional que se reflete no contexto familiar influenciando nas partes fisiológicas e sociais do indivíduo, porém é necessário realizar um trabalho incessante entre Terapeutas e Família na elaboração desse “luto” como fundo terapêutico de todo o processo:
- Construindo uma parceria entre o tripé: Médico- Familiar- Terapêutico, criando estratégias de aceitação à realidade apresentada, recorrendo a prática uma Psicologia Dialógica, onde a criança diagnosticada e a família sejam colocadas em uma proposta de deslocamento do problema através de uma AÇÃO- REFLEXÃO-AÇÃO. Nesse processo, família e assistido são seres interdependentes, discutindo ações, vivenciando realidades e construindo mudanças in lócus;
- O luto precisa ser sentido e experimentado com os efeitos da dor. Nesse processo Médicos e Terapeutas se comunicam, trocam experiências, porque para o diagnóstico de uma dor existe o remédio e a eficácia desse remédio necessita da funcionalidade da interdisciplinaridade das áreas na construção terapêutica em prol a qualidade de vida;
- A vivência de mundo precisa ser preparada para o Paciente e família como um lugar adaptado, porque nesse contexto de vida a configuração social é apresentada de forma ausente e este local ausente para as famílias promovem incessantes perguntas. Vale salientar, que as perguntas só serão respondidas para a família, a partir de uma perspectiva Psicológica Sistêmica, no qual me aproprio de Urie Bronfenbrenner, que tem uma valiosa contribuição da Teoria Bioecológica Sistêmica, analisando aspectos da pessoa em desenvolvimento na interação de contextos:
Para trabalharmos eficientemente um diagnóstico médico, em prol a obtenção de uma qualidade de vida, tanto para o paciente como a família deve-se perceber que a PESSOA- PROCESSO-TEMPO-CONTEXTO caminha junto e apresentam ciclos rotativos com a finalidade de se atingir o desenvolvimento humano.
Cabe aos Terapeutas, trabalhar o indivíduo na sua totalidade, abordando a teoria ecológica de sistema em visão para um conjunto de estruturas, que segundo Urie Bronfrenbrenner, a dinâmica terapêutica vem assemelhar-se a um jogo de bonecas russas, que são encaixadas uma dentro da outra e que interferem mutuamente entre si e afetam conjuntamente o desenvolvimento da pessoa.
Cada uma das estruturas é chamada pelo autor de: microssistema-, mesossistema-, exossistema- e macrossistema. Segundo a perspectiva do autor Urie Bronfenbrenner e por acreditar que podem auxiliar pessoas envolvidas com diferentes diagnósticos da Saúde Mental, é preciso que existam ligações entre papéis e pessoas envolvidas no processo de interação. É através desse processo de interação, que o desenvolvimento intelectual, emocional e social vai requerer uma participação ativa e direta com as pessoas envolvidas: seja o paciente portador do Espectro Autista, seja a família participativa desse processo direto de inclusão.
É preciso que o psicólogo ao conhecer o Espectro Autista se referencie ao meio ambiente global, no qual o indivíduo está inserido e de onde vão discorrer os processos de desenvolvimento frente a uma possibilidade de uma nova habilidade ou competência surgida, favorecendo assim, a compreensão deste ser, portador deste diagnóstico e abranger os vários ambientes subdivididos, nos quais foram citados pelo autor BROFRENBREENER, Urie.
Quando recebemos um paciente e uma família diagnosticada com o Espectro Autista (TEA) não trabalhamos o todo, mas as partes de um processo; não colocamos a família e o assistido em um lugar de pouca valia, considerando apenas a importância das técnicas, mas colocamos o trabalho eficiente diante do que o assistido pode responder no nível de preservação neurológica. Para reflexão de onde queremos que os nossos filhos estejam, veja o que diz Bert Hellinger.- A Cura- Lei do Pertencimento Pág. 17:
Pertencer a nossa família é nossa necessidade básica. Esse vínculo é o nosso desejo mais profundo. A necessidade de pertencer a ela vai além até mesmo da nossa necessidade de sobreviver. Isso significa que estamos dispostos a sacrificar e entregar nossa vida pela necessidade de pertencer a ela.
Texto: PARANHOS, Mabel Luzia Cruz- Psicóloga Sistêmica de Casal e Família